Fantasias e indumentárias são produzidas por habilidosas mãos de costureiras
10 abr 2024
| 05:08h | NotíciasEscolas de samba e afoxés representam a cultura de matriz africana na Micareta
Reportagem: Renata Leite
Acomodada em frente a uma máquina, a costureira Waldete Lima, 70 anos, faz os últimos ajustes em peças de roupas. Não são trajes do dia a dia. São fantasias para integrantes de escolas de samba e indumentárias para afoxés que irão se apresentar na Micareta de Feira de Santana, entre os dias 18 e 21 de abril.
A costureira do bairro Rua Nova conta com o auxílio de mais três profissionais para dar conta da demanda. A confecção teve início há três meses e, agora, chega à fase final.
As peças são para os integrantes da escola de samba "Brasil Meu Samba" e dos afoxés "Filhos de Ogum" e "Filhos de Doguiã" - os três são da Rua Nova. São quase 260 vestimentas no total.
Dona Dete, como é conhecida, diz que a quantidade de peças confeccionadas por ela está dentro do limite da sua capacidade de produção. "Mais peças não daríamos conta. É um trabalho muito puxado", revela.
Há 25 anos neste ofício, a profissional destaca que as fantasias das escolas de samba são mais trabalhosas. Requer mais detalhes na produção e muita criatividade. Ela usa tecidos mais brilhosos, como cetim, seda e paetês. "Passamos a madrugada em frente à máquina de costura trabalhando sem parar", diz.
A adrenalina pré-micaretesca para deixar tudo pronto antes do início da festa é uma das boas lembranças que ficou guardada na memória de Hildete Pereira dos Santos, 76. Aposentada do ofício de costureira, ela lembra que tinha que dar conta de mais de 100 fantasias da Escola de Samba Império Feirense, que tinha como fundador o seu marido Edvaldo Lago Santos, o Val Sambista, já falecido.
"Para confeccionar as fantasias da bateria, mestre-sala, porta-bandeira e sambistas contávamos com ajuda de costureiras de Salvador", diz ela. Segundo "Dete de Val", como é chamada, a escola já não desfila na Micareta há 11 anos, desde que o marido faleceu.
"A família toda participava e fomos a escola campeã por quatro vezes. No último ano na avenida, o samba enredo foi uma homenagem ao radialista Dilton Coutinho".
REPRESENTATIVIDADE NA AVENIDA
Nesta Micareta vão desfilar pelo Circuito Maneca Ferreira, na avenida Presidente Dutra, 37 entidades entre blocos afros (19) e afoxés (8). A maioria é do bairro Rua Nova - outros são da Baraúnas, do Tomba e Jardim Acácia. Entre os associados não há limite de idade - vão desde crianças a pessoas que já passaram dos 60 anos.
"Essas entidades representam na avenida a cultura de matriz africana, a nossa ancestralidade", afirma Val Conceição, coordenador geral da Associação Cultural Moviafro.
De acordo com ele, algumas dessas associações desenvolvem trabalhos socioculturais no decorrer do ano, a exemplo de aulas de dança, percussão e capoeira, além de concursos de beleza e oficinas com mulheres negras.
O bloco afro Nelson Mandela, o cortejo Moviafro e o afoxé Pomba de Malê são algumas das entidades que há anos marcam presença na avenida e, que neste ano, vêm com novidades.
Ivannide Santa Bárbara, militante do movimento negro, será homenageada pelos integrantes do cortejo Moviafro, que vai para o circuito com uma atração convidada: o grupo Samba Trator, revelação no Carnaval de Salvador.
"Vamos levar o samba de roda para os foliões na tarde de sábado, a partir das 15h", anuncia o coordenador geral do Moviafro. Enquanto isso, o regaeman Jorge de Angélica, falecido em outubro de 2023, será lembrado pelo Afoxé Pomba de Malê, que entrará no corredor da folia com 150 associados.
"Teremos desfiles de blocos afros e afoxés nos quatro dias de festa. Na quinta-feira (18) sai no Circuito Maneca Ferreira o bloco afro Nelson Mandela, a partir das 20h. A concentração será nas imediações da Igreja dos Capuchinhos", cita Val Conceição.
Além desse bloco, mais outros dois também saem do início do percurso. São o cortejo Moviafro e o bloco Tambores Urbanos. Os demais têm como ponto de concentração em frente ao Hemoba, na avenida Maria Quitéria, com desfiles iniciando no final da tarde.
TRADIÇÃO
Outra escola de samba que estará na avenida é a Escravo do Oriente. Nesta Micareta prestará homenagem à fundadora, a yalorixá Maria do Socorro Roma, mais conhecida como Mãe Socorro. É uma das mais antigas entidades da Micareta de Feira, com 64 anos de existência.
"Esta é uma das poucas escolas fundamentadas no candomblé. Levaremos baianas representando a extinta Lavagem da Lenha, levaremos o bumba-meu-boi, capoeiristas e os orixás. Todas as alegorias vão remeter a figura de Mãe Socorro", destaca o presidente de honra e genro da homenageada, Ronevon de Jesus Silva.