Blog Quem Bahia

Por João Mascarenhas

Notícias

EXPOFEIRA: A FESTA DA PECUÁRIA REGIONAL COMEÇOU HÁ 58 ANOS NO MÊS DE FEVEREIRO

21 ago 2025

| 23:53h | Notícias
EXPOFEIRA: A FESTA DA PECUÁRIA REGIONAL COMEÇOU HÁ 58 ANOS NO MÊS DE FEVEREIRO

A coluna Feira em História, assinada pelo jornalista Zadir Marques Porto, traz fatos históricos e curiosos sobre a cidade

Movimentando a população e atraindo visitantes de várias partes do país, com indiscutível impacto positivo na economia regional, a Exposição Agropecuária de Feira de Santana (EXPOFEIRA) tem uma história significativa que caminha para seis décadas e simboliza o idealismo de pecuaristas que já não estão entre nós, mas deixaram seus nomes definitivamente gravados nos anais da pecuária e do município.

Por muito tempo conhecida como ‘cidade das boiadas’, devido à sua conhecida história, estritamente ligada ao comércio de bovinos que movimentava economicamente ampla região, Feira de Santana foi gradativamente deixando a mera condição de um grande entreposto de venda de ‘boi em pé’ para também ganhar status como município detentor de importantes rebanhos de gado leiteiro e de corte. Vários criadores locais passaram a adquirir animais de alta linhagem, estabelecendo nova dimensão na bovinocultura, que logo seria sacramentada através da realização de concursos mediados por juízes procedentes dos maiores polos criadores do país.

Mas, para chegar a esse estágio, houve o que hoje se denomina ‘esforço concentrado’ de um grupo de idealistas, talvez pequeno numericamente, mas grande em termos de ideias, planos e, o que é mais importante, de ação — sem o que dificilmente um objetivo é alcançado. Assim, os pecuaristas Vicente Quezado Leite, Francisco Teixeira e Antônio da Costa Falcão, liderados por Gil Marques Porto, presidente da Associação Rural (depois transformada em Sindicato Rural e Sindicato dos Produtores Rurais), decidiram que já era tempo de Feira de Santana contar com um local próprio para o negócio de animais de raça, mas que também pudesse recepcionar dignamente criadores e expositores que, por certo, viriam de vários locais, além de moradores da região em busca de entretenimento.

Era necessário esse local, mas como tê-lo na dimensão necessária e desejada? Determinado, Gil Marques Porto foi ao pecuarista João Martins da Silva, proprietário de uma grande área de terra às margens da BR-324 (rodovia Feira/Salvador), que generosamente garantiu a doação do espaço necessário para a instalação do projeto. Mas, evidenciando seu altruísmo, foi franco diante da natural sugestão do presidente do Sindicato Rural de batizar o futuro parque com o nome do doador do terreno: “Se for assim, Gil, eu não faço a doação!”. O desejo do pecuarista foi respeitado, e só após o falecimento de João Martins da Silva seu nome foi oficialmente colocado no parque.

A área foi registrada em nome do município e posteriormente passada para a entidade de classe. Todavia, outra tarefa estava pela frente: construir o parque, o que parecia quase impossível diante da falta de recursos. Novamente, o amor à causa e a determinação foram essenciais. O grupo idealizador recorreu a diversas empresas do comércio local, como também a criadores, e peregrinou com um ‘livro de ouro’, colhendo contribuições. Contando com o apoio do prefeito Joselito Falcão de Amorim, o projeto foi tocado, criando verdadeiro clima de euforia entre criadores, antes descrentes devido ao alto custo da obra.

No dia 19 de fevereiro de 1967, com “o parque pequeno para tanta gente”, como foi amplamente ressaltado pela imprensa, era realizada a abertura da I Exposição Agropecuária de Feira de Santana (Expofeira), que foi encerrada no dia 26 do mesmo mês. Presentes na inauguração o governador do estado, Lomanto Junior, e sua comitiva, o prefeito Joselito Amorim, o pecuarista João Martins da Silva, os idealizadores do equipamento, criadores e milhares de pessoas. Ainda por conta da ação da instituição de classe, antes da implantação do parque foi realizada a I Festa do Vaqueiro, com eleição da rainha e princesas e o vaqueiro mirim, Pedro Porto, de seis anos. Mais de 200 vaqueiros com trajes típicos (encourados) desfilaram pelo centro da cidade em um belo espetáculo.

A Expofeira, originalmente surgida em 1967 no mês de fevereiro, foi transladada para o segundo semestre do ano, sendo fixado no calendário municipal o mês de setembro, quando as chuvas e o frio do inverno já estão se dissipando com a chegada do agradável clima da primavera. Além de bovinos — razão original do evento —, equinos, bubalinos, ovinos, caprinos, aves e outros pequenos animais foram adicionados à ‘festa da pecuária’, concorrendo para o extraordinário crescimento verificado. Associações de criadores e expositores de várias raças bovinas — zebu, holandês, gir, guzerá, nelore, sindi, girolando, minibovinos —, também criadores de cavalos manga-larga, manga-larga marchador, quarto de milha, pônei, jumento pega e de outros animais, deram maior diversidade e destaque ao certame.

A crescente presença de agentes financeiros, a venda de implementos agrícolas e máquinas, empresas dos mais diferentes segmentos, restaurantes, shows musicais, parques infantis, expositores de vários ramos, a cada ano, foi modificando o cenário inicial. A exposição de animais campeões, possuidores de alta linhagem genética, estabeleceu um ciclo de negociações vultosas, quer em vendas diretas ou mediante leilões, atraindo criadores de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Goiás, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Alagoas e outros estados, dando ao evento um caráter nacional, capacitando-o ao calendário do agronegócio.

Pode-se dizer que, em 2025, a Expofeira, novamente ocupando as dependências do Parque João Martins da Silva, no mês de setembro, é um resgate valioso e necessário do esforço incomum dos seus idealizadores, pecuaristas, trabalhadores rurais, autoridades e tantos outros que, ao longo de décadas, têm proporcionado esse grande evento como forma de manter viva a tradição ruralista do Brasil, cada vez mais urbano e distanciado do seu passado. Assim, no Parque João Martins da Silva, Feira de Santana reitera sua liderança na pecuária regional. É também um justo preito àqueles que lutaram por esse ideário e já não estão aqui para vivê-lo!

Por Zadir Marques Porto





Revista

REVISTA QUEMBAHIA.COM

Arquivo de Matérias



Publicidade

Podcasts

RadiosNet

Minha Figura
00:00
Download

Trabalhadores rurais celebram Dia da Agricultura Familiar

Minha Figura
00:00
Download
Ver todos os Podcasts

Fotos